O misterioso Rio Azul, uma jóia na montanha.

Gustavo Guzmán
11 de jul. de 2017
3 min de leitura

Imagina apenas um sussurro, ainda longe, de águas que correm em harmonia, que batem nas pedras suavemente: caricias que criam redemoinhos, murmúrios que atraem os caminhantes. O som misterioso de um rio de montanha igual a qualquer um, diferente a todos.

Começamos a caminhada ainda longe do rio e o ingrime da trilha nos leva até o mirante, a vista é impactante. A silhueta da água através da floresta é cercada por verdes intensos mais ou menos escuros, desde o musgo das pedras até as árvores de largos troncos e folhas dançantes no vento da manhã.

Trilha na Confluencia dos rios azul e branco.

A trilha nos pede um pequeno esforço como preço pelas belezas que agora só conseguimos perceber. As bandurrias voam baixo e cantam com voz quebrada, nos encorajam para seguir. Elas sabem as intensas imagens que esperam por nos.

Chegamos na Confluencia onde o Rio Azul e o Rio Blanco se encontram calmos numa planície que nada tem a ver com a correnteza arriscada que desce veloz pelas encostas.

A imagem é magica e as cores dos dois rios se misturam embora ambos são extremamente transparentes e refletem com elegância o céu andino, enquanto as praias de pedra fornecem o calor roubado ao sol.

Paramos a descansar mas na realidade só queremos ficar mais um pouco submergidos na paz que o espirito das águas oferece generosamente, molhamos o rosto com a fresca fluidez e comemos uma fruta para repor forças.

O caminho segue como uma serpente de terra pela beira do rio e chegamos a uma ponte suspensa construída faz poucos anos para facilitar aos funcionários fornecer os suprimentos dos refúgios de montanha.

Do lado fica a antiga ponte suspensa, frágil pelo passo do tempo é testemunha silenciosa da vida dura e dos invernos nevados.

Ao longo do caminho vamos ter oportunidade de ver, e atravessar, outras pontes suspensas que dão uma imagem idílica sobre o rio, um quadro que mostra a tenacidade dos homens por domar a natureza, muitas vezes derrotados pelas enchentes.

A trilha, as vezes se afasta do rio e o murmúrio das águas é substituído pelos pássaros que cantam ou o batimento rítmico de um pica-pau de cabeça vermelha que nos enxerga desde a segurança do bosque. Um bosque que fica escuro embora o sol brilha potente no céu, a densa barreira de árvores é a aconchegante morada de animais que fogem da nossa visão ainda desconfiados pela nossa presença.

Mas não todos estão escondidos, a curiosidade e uma magnifica habilidade de sobrevivência, sentimos que somos vigiados, diminutos olhos que enxergam cada um de nossos movimentos e que as vezes conseguimos captar com as câmeras.

O ar é fresco e tonificante e a cada passo nosso espirito fica mais cheio da boa energia que nos faz sentir bem, a distância com a natureza quase não existe. Temos a sensação de ser um com o universo e a paz percorre nosso corpo em ondas. O bem estar é evidente e todos os sentidos estão focados em curtir o momento, em perceber tudo o que nos rodeia e o caminho nos leva de novo a um lugar mágico: a Prainha (La Playita). O rio é largo mas continua desenhando o percurso marcado pelo vale com grandes rochas que são como ilhas no meio das águas brancas. O conjunto de bosque andino e águas azuis fornece na prainha de pedras um charme delicioso que nos convida a curtir o sol na beira e beber uma cerveja artesanal do refugio que fica encostado nesse rio turbulento.

O próximo destino, mas não o último, é um fenômeno geológico chamado Cajón del Azul. O rio que desce das montanhas chega suave a uma planície onde descansa depois das abruptas ladeiras, e percorre calmo o solo semeado de pedras e rochas ate um barranco estreito que fazem bravas as águas, o murmúrio muda grito. Estrondo no silêncio da montanha.

Ao fim um furo engole a fluente faixa de água gelada que desce sem controle numa cachoeira barulhenta e belíssima.